13 de setembro de 2007

Ao amigo André


Oi amigo,

Resolvi escrever uma carta em forma de post para você, afinal estamos no século XXI e precisamos fazer a nossa parte para preservar a natureza. Deixemos as árvores em paz e nos rendamos ao mundo virtual.
O post personalizado não é só uma tentativa de me redimir depois de todo o drama feito por você porque não o convidei para comemorar meu aniversário comigo, mas também uma maneira de matar saudades. Saudades de quando trocávamos cartas de amigo, esperando que um dia pudéssemos ser famosos escritores e ter nossos escritos publicados como uma dessas raridades que se encontram perdidas em meio a um amontoado de papéis que tem a cor e o cheiro do passado.
Com o passar do tempo, veio a necessidade de nos tornarmos adulto, quando achamos que ser adulto era abrir mão, por exemplo, de passar a tarde com nossos amigos, de escrever cartas. Não porque isso não nos desse mais prazer, mas porque não tínhamos mais tempo (a velha e boa desculpa do não ter tempo). Mas a verdade é que nos perdemos com tanta ânsia de ganhar dinheiro, de comprar nossos sonhos materiais... acho que isso aconteceu comigo e aconteceu com você.
Eu não vim aqui para prometer que voltarei a ser quem eu era, escrever cartas e posts com a freqüência que hoje meu saudosismo quer. A cada minuto que passa, nós nos transformamos. Mas vim para dizer, e para lembrar o quanto tudo isso me fazia bem. E quer saber? A sensação de agora é a mesma. É ótimo escrever para amigos, expressar sentimentos, dividir sensações...
Embora eu saiba que você vá ficar muito metido ao ler o que vou escrever agora, eu quero que você saiba que você sempre foi um amigo muito querido e, embora eu nunca vá te perdoar por ter recusado meu convite para ser nosso padrinho de casamento, sempre o considerarei como meu amigo-irmão.
Espero que, ainda que o tempo não nos mantenha tão próximos fisicamente, ele não apague esta amizade de tantos anos e que possamos dividir muitos acontecimentos juntos...quero um dia, mostrar meu blog aos meus filhos e aos seus e ensiná-los que amigos são nossos bens mais preciosos.

Com carinho,
Leine

'tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar

pra amores secretos, revistas semanais e deputados federais

às vezes nunca sei se "AS VEZES" leva crase

às vezes nunca sei em que ponto acaba a frase (.,;?!...)

você sempre soube (eu não sabia)

toda frase acaba num riso de auto-ironia

você sempre soube (eu não sabia)

toda tarde acaba com melancolia

e, se eu escrevesse "SEM" com "S",

ou escrevesse "CEM" com "C"??

por acaso faria alguma diferença??

que diferença faria??

o que você faria no meu lugar......

se tivesse pr'aonde ir e não tivesse que esperar??

o que você faria se estivesse no meu lugar......

se tivesse que fugir e não pudesse escapar?

você sempre soube que eu não conseguiria

quando a frase acaba tarde, tudo fica pr'outro dia

você sempre soube, eu não sabia

toda tarde acaba em melancolia

às vezes não entendo minha própria letra

minha própria caneta me trai

às vezes não entendo o que você quer dizer quando fica calada

você sempre soube (eu não sabia)

quando a frase acaba o mundo silencia

às vezes não entendo onde você quer chegar quando fica parada

é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar

não vão chegar com "X" nem vão chegar com "CH"

é como ficar esperando horas que custam a passar

enquanto ficamos parados, andando pra lá e pra cá

é como ficar desesperado de tanto esperar

olhando pela janela até onde a vista alcançar

é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar

é como ficar relendo velhas cartas até a vista cansar

você sempre soube - eu não sabia

você sempre soube - eu não sabia
(AS VEZES NUNCA - Humberto Gessinger)

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